segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

NASCE A FILOSOFIA

Quando uma criança começa a dar conta de si, começa a perguntar. Além de ser um modo de estar junto do adulto, é a especialidade do ser humano que evolui nela, ou seja, a necessidade de saber as coisas, de obter respostas para as dúvidas, de conhecer como os fenômenos atuam, de querer explicações...
Isto é inato na criatura humana. Nasce com ela e distingui-a dos demais seres. Tendo a capacidade de analisar a si e ao outro (o mundo fora dela) – e analisar, em filosofia, significa separar um todo em partes para entendê-lo – deparar- se com perguntas intrigantes. Por exemplo: Quem sou eu? O outro existe? De onde vim? Para onde vou? O que é o mundo? Quem o fez? Porque só minha espécie animal é assim?, etc.
Como ser, o homem sente-se parte do universo, mas ao mesmo tempo separado dele. Esta consciência de fusão e distanciamento simultâneos gera nele – homem – uma insegurança, um medo profundo. É uma angústia vital, existencial, e para sair dela há necessidade de saber, de conhecer, de entrar pela porta dos mistérios, de penetrar o íntimo de tudo, porque a esfinge está aí a lhe dizer continuamente: decifra-me ou te devoro. Enfim, o desconhecido apavora o ser humano.
Desta condição essencial desenvolve-se o pensamento teórico, especulativo, explicador dos acontecimentos. Nascendo inseguro e questionador, o homem gerou o pensamento empírico (idéias que vão surgindo à medida que se vão fazendo as coisas) que, aprofundado e provado, origina o pensamento científico – a ciência.
Frente ao misterioso, ao não experimental, gerou também o pensamento confiante, crente em forças superiores a si, corporificado na religião e no mito. É o pensamento mítico, é o pensamento revelado, inquestionado e aceito.
Pensando sobre esses dois tipos de pensamento, argumentando sobre eles, buscando causas, etc., com suas próprias forças internas de raciocínio, o homem concebe o pensamento argumentado, o pensamento filosófico.
A vida humana gira, dia e noite, nestas três órbitas de pensamento, aliás, interligadas e presentes indelevelmente. Convém, todavia, explicar melhor a diferença entre eles.

  • O conhecimento científico:
    Passa inicialmente pelo conhecimento empírico que é fruto do exercício espontâneo da inteligência. São conhecimentos imperfeitos, nem sempre objetivos, particularizados, prematuros. Por exemplo: os palpites populares sobre condições meteorológicas; alguns provérbios ou máximas populares muito comuns entre nós sobre o comportamento humano, etc., são ainda conhecimentos empíricos. São noções que não devem ser desprezadas, ao contrário, formam o primeiro degrau da ciência.
    Quando o empirismo é substituído por conhecimentos certos, comprovados, ou seja, verdades fundadas em princípios e causas que se aplicam a todos os casos e em qualquer tempo e em qualquer lugar, então chegamos à ciência, ou pensamento científico.

  • O conhecimento mítico:
    É saber que a pessoa recebe fé, pela confiança que tem em alguma força ou pessoa superior a ela. Nele fundamenta-se a religião. Aceitam-se as afirmações sem discuti-las ou questioná-las, pela crença no transmissor da mensagem. Este conhecimento prescinde de maiores provas intelectuais e vai desde as ingênuas explicações ou simples esclarecimentos de um ministro religioso ou benzedor popular sobre eventos particulares (por exemplo: raios são a ira de Deus; Aids é castigo...) até as complexas teorias sobre os mistérios do cosmo trazidas pelos grandes sistemas místico-religosos.

  • O conhecimento filosófico – conceito da filosofia:
    O pensamento filosófico distinguiu-se do pensamento mítico porque é fruto da capacidade do intelecto humano de procurar as causas mais profundas de tudo. Não é um pensamento só científico porque vai além da ciência, discutindo as causas de tudo de um modo não mensurável. Neste aspecto, o pensamento filosófico debate tudo, até a própria ciência e o próprio mito. Por isso constantemente se vêem artigos, livros, teses, etc., com o nome, por exemplo, de “Filosofia da religião”, “Filosofia do esporte”, e assim por diante. É que o pensamento filosófico se dá o direito de analisar o Ente (tudo que existe no concreto e na imaginação); de questioná-lo; de perfurá-lo até chegar a seu núcleo; de transpassá-lo para localizar suas causas; de pensar e pesar as conseqüências de sua existência, etc.
    Foi pensando nesta universalidade do pensamento que – a partir provavelmente de Pitágoras (século V antes de Cristo) – esta postura humana recebe o nome grego de filosofia: de filo = amigo ou amizade e de sofia = sabedoria. Antes dele, o filósofo era chamado de sábio – sophon – ou seja, a pessoa fluente no todo, o amigo do todo que une todos os entes. Pitágoras achava que este nome só se aplicaria a Deus e escolheu um nome mais modesto para o homem pensante, denominando-o de “filósofo” – amigo da sabedoria.

    Para maior clareza damos um exemplo de uma imagem de santo.
  • O pensamento mítico estuda o que o santo é para a pessoa, que proteção sobrenatural traz a ela;
  • O pensamento científico estuda o material da estátua, peso, dimensões, efeitos físicos e psíquicos;
  • O pensamento filosófico estuda as causas do fenômeno “estátua de santo”: Causa Eficiente (identificação de forças que produzem o fenômeno): Quem fez? De onde surgiu?; Causa Material (identifica os elementos que constituem um ser): É de gesso? Bronze? Madeira?; Causa Formal (identifica o modo, o formato como o ser se apresenta): É busto? Corpo inteiro? Homem? Mulher? Criança?
    Síntese final: o pensamento filosófico, ou Filosofia, é o conjunto das respostas que a mente humana consegue dar a todos as perguntas a que todo o existente pode ser submetido.

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